15 junho, 2011

Um problema sem problema, resolve-se à chapada !


Será um problema? Se o for, qual será? Sabê-lo é tão incerto como sentar-me numa tarde qualquer à espera que apareças por aqui. É um problema meu e não um problema nosso. Porque o nosso morreu quando este nasceu, juntamente como nosso todo. O nosso nós, passou a meu "eu" e o teu "eu" , unidos em separado. Os nossos dedos já não encaixam perfeitamente quando damos as mãos, os nossos olhos cruzam-se mas o brilho passou a uma escuridão medonha. O teu silêncio já não nada diz. Pelo menos nada do que eu já estava habituada a ouvir. O teu toque já não me arrepia e o meu corpo já não quer o teu - É mentira. Tão mentira como o próprio facto de tu ires. Tu não foste. Apenas não estás mais aqui da mesma maneira. E isso quebrou tudo,  tendo em conta a sensibilidade de cristal de toda a situação.  É um problema sim. Mas não tem problema. Podes ir, eu fico. E fico bem. Fico em conflito comigo, ando à chapada comigo e entendo-me comigo. Trato de tudo sozinha. Vai e não venhas de novo dar-me mais um toque doce, que me prenda a ti mais uma vez por tempo indeterminado como fazes sempre . Os meus neurónios estão aos murros um ao outro pelo tempo que perderam ocupados com a tua habitual habitação diária neles. Os meus olhos estão negros de tantos arranhões de cada lágrima que caí e deixa marcas profundas no seu caminho. O meu rosto deixou de ser rosado e passou a vermelho vivo das chapadas que dei quando a minha imagem reflectida no espelho deu lugar à tua. Os meus pulmões não têm força para realizar o trabalho que lhes compete e o meu coração levou o pontapé final. Parou. E assim vai continuar. Vamos acabar com este todo que construímos indiferentes ao mundo, aos valores que ele carrega e que nós devíamos respeitar. Vamos acabar com as manhãs de palavras soltas, as tardes de beijos perdidos e as noites de paixão ardente. Vamos acabar com este mundo, com o nosso mundo. Se tiveres que ficar vamos começar de novo, tocar de novo o zero e subir lentamente cada um dos degraus que nos estão destinados. Porque assim, assim eu não aguento. Assim, eu resolvo tudo à chapada comigo, para arranjar uma nova dor que apague a deixada por ti sem dó nem piedade. Que apague, as por ti esquecidas, juras e promessas dos momentos que eu guardei para sempre.

P.s: Please go, because if you come, I shoot you!
(Texto para : Fábrica de Letras)

7 comentários:

  1. Andreia,

    a forma como traçaste o caminho das frases é envolvente, que os olhos vão ao fundo, que percorrem alturas, que não se cansam.

    Fiquei encantado; pude navegar junto, de paixão em proa, a buscar cais desconhecidos. Enxerguei a dor posta entre as vírgulas, as tentativas vãs de mundo a dois.

    Enfim, torno-me teu leitor a partir disto.

    Bjs.
    Ricardo

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  2. Olá, querida Andreia
    Andamos juntas à chapada conosco nessa edição...
    Vc fez um belo texto... de conflitos internos e ressalto uma frase forte:
    uma chapada em nós mesmos que apague a dor da deixada pelo outro que nos chapa também...
    Abraços fraternos de paz

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