26 fevereiro, 2011

A noite pede...

...que deixes de parte o que é teu, o que faz de ti quem és,  do lado de lá de uma porta imaginária. Pede que deixes os teus problemas dentro de uma gaveta bem fechada no fundo do armário antes de saíres de casa, que deixes telemóveis e conversas que podem ser tidas depois, em standby em cima da mesa, à espera do teu regresso. A noite pede que as tuas paixões e preocupações com elas fiquem guardadas no lugar mais fundo do teu ser, a dormir em paz, fora de qualquer confusão. Pede que leves uma hora a decidir o que vestir, o que pode levar ou não, o que fica bem e o que fica mal, o que te vai fazer uma pessoa minimamente séria e o que te vai fazer parecer acessível para os demais. A noite pede, que deixes o teu stress de fora e que leves a maior dose de paciência que conseguires para possíveis acontecimentos inesperados. Pede que fiques uma hora a espera para entrar em algum lado ou que passes há frente de todos os outros que já lá estavam. Pede que apresentes B.I e te sujeites a ser revistado. A noite pede que,  a partir do momento em que entras em determinado local, deixes de ser o que és dia após dia, pede que cries uma personagem para actuar ali, sem ensaios prévios e sem ficar a espera de palmas. A noite pede que te deixes levar pelo que se passa a tua volta, que te deixes voar sem tirar os pés do chão. Pede que tenhas paciência para ser fumador activo ou passivo uma noite inteira, até ficares com os olhos vidrados, que bebas copos e copos de vodka,  um copo de sumo e uma garrafa de água . A noite pede que leves contigo a melhor companhia que consigas, que tenhas tudo planeado para poder sair tudo furado e ser melhor ainda do que tinhas pensado. Pede que  dances sozinho, ou em em cima de uma coluna com desconhecidos ao teu lado, ou até no meio da pista rodeado de gente por todos os lados, com encontrões propositados ou para furar o caminho impossível de encontrar no meio daquela enorme quantidade de actores sem contracto ali concentrado. Pede que não te vires para dar um estalo aquele que do nada resolve por as mãos na tua cintura e dançar contigo, mas que dances também que te abanes da cabeça aos pés, e vás tão longe como as ondas sonoras. A noite pede que te deixes levar, que comeces a dançar perto de alguém por acaso e que acabes oficialmente numa dança corpo a corpo, ficando por aí ou deixando escapar um ou outro beijo. A noite permite que te transformes. A noite pede que dês de caras com quem não tens intenções de ver, mas que sigas em frente como se, de mais um desconhecido se tratasse. Pede que observes e sejas observado. Pede que te divirtas e deixes as vergonhas de lado, pede que sejas o teu outro "eu".  A noite pede que sejas consciente no meio da tua própria inconsciência. Pede que arrisques, te ponhas a prova e pises a linha. Pede que faças o que tens a fazer, que aproveites o momento e que no dia seguinte penses que foi a melhor noite que já passas-te, sem te questionares com porquês. Pede que surpreendas e sejas surpreendido. A noite suplica entre gritos surdos, que vivas e não que fiques a ver viver. A noite pede que o tempo pare e que não seja dia.

20 fevereiro, 2011

Just keep going


E eu continuo a dizer que a vida é feita de etapas. Etapas essas que têm de ser vividas, cada uma a seu tempo, sem poder-mos ficar presos a uma delas para sempre. Porque ao contrário do que possamos pensar, perdemos com isso em vez de ganhar. O avanço de cada uma dessas etapas implica a mudança e deixar certas coisas para trás para começar outras novas. Nem melhores nem piores que as antigas, simplesmente diferentes. É tal e qual quando jogamos alguma coisa e só queremos passar de nível. E ficamos felizes com isso e não a chorar pelos cantos como muitas vezes fazemos com a nossa vida. Ela anda para a frente, só para a frente  e nunca para trás porque o tempo passa e não perdoa. jamais volta atrás. Há pessoas, há momentos, e características de determinados lugares e por isso, existem a memória e o coração para guardarem todas essas coisas porque por mais que achemos que não, elas ficam sempre lá e não há tempo que possa destruir isso. Nada dura sempre, mas também não se perde totalmente. Tudo o que foi verdadeiro, intenso, o que nos ensinou , nos obrigou a errar , a amar , a magoar e a perdoar, fica para sempre no nosso ser. Porque entre outras coisas a memória é dos melhores tessouros de alguém, as coisas têm a importância que cada um de nós lhes atribuí. Tudo passa, tudo. Mudanças é bom, eu quero uma e grande .

19 fevereiro, 2011

A loucura da loucura

Como muitas outras inúmeras coisas, a loucura é só mais uma das que faz parte da categoria do relativo. Já vi pessoas fazerem coisas que eu não faria, chamando-lhes loucas. Já deixei de fazer muitas outras coisas por ter essa mesma ideia. Já vi outros, pegarem na minha ideia e executarem-na por para eles parecer extremamente normal. A linha que separa a loucura da normalidade, foi estabelecida por um alguém que nunca ninguém viu, mas que nos envolve todos os dias. Alguém que vale acima de tudo o resto. Alguém esse que falou mais alto que todos e se fez ouvir por toda a parte, atingindo grande parte dos seus ouvintes, que sem saberem porquê seguem o melhor que podem, aquilo que por acaso lhes chegou aos ouvidos. Se por distracção ou impulso um dia pisam a dita linha, acham-se ou acabaram mesmo por ser classificados de loucos. O certo, é que nem todos o ouviram, ou se ouviram muitos fazem questão de ignorar o que surgiu pelo ar e  fazer tudo ao contrário do que estava estabelecido.
E agora quem será mais louco? Aquele que saí de casa horas antes do acontecimento ou aquele que saí em cima da hora e vai a correr para lá chegar. O que usa o relógio no pulso todos os dias ou aquele que segue ao sabor do vento. O que dorme para sonhar ou o que sonha acordado. O que espera um dia conseguir voar com um pássaro livre pela Primavera fora ou o que voa dia após dias, por muito que seja em redor de sonhos e pensamentos que nunca serão divulgados? O que luta por um futuro indo buscar forças não se sabe muito bem onde ou aquele que desiste por achar que já mais irá conseguir. O que se senta à espera de se reconhecido ou aquele que se faz conhecer sem saber o que o espera. O que despeja o lixo todos os dias ou aquele que evita fazer lixo para não ter que o despejar. Aquele que compra um maço de tabaco ou o que vai pedindo cigarros a um e a outro só para não gastar dinheiro? O que se deita cedo para poder descansar ou aquele que se deita tarde e dorme uma tarde inteira. O que presisite mesmo com risco de perder tudo ou o que não arrisca por medo do mesmo. Será mais louco o que toma banho no Verão para se refrescar ou o que toma  banho no Inverno para se aquecer? O que vive rodeado de gente vivendo a sua liberdade ou o que se refugia sozinho achando-se livre também. O que se enrola na toalha antes do banho ou o que só o faz depois. O que abre as persianas de manhã para ser iluminado pela luz do sol ou que as abre durante a noite para dormir com sob a luz do luar?  O que come a sobremesa no fim da refeição ou aquele que começa a sua por ela. Aquele busca incesantemente a felicidade ou aquele que deixa o seu amor partir por não valer insistir em algo sem futuro deixando assim dois caminhos abertos para uma felicidade em vez de um único infeliz?
A Loucura e a dita normalidade, dois mundos distintos integrados num só ou um mundo dentro de mundos. Mundos esses criados por cada um de nós. Seremos nós todos normais rodeados por uma pequena quantidade de loucos. Ou seremos todos loucos rodeados por uma pequena quantidade de normais? Como é louca a loucura daquele a que chamam louco.

15 fevereiro, 2011

Contracto de um coração

Orgão pequenino e vital, susceptível de ser afectado por setas do cupido, iludido e magoado. Pequeno mas enorme em simultâneo, cabe lá um mundo, e mais houvesse. Sente coisas que não se explicam, e é extremamente difícil de lutar contra ele. Torna tudo mais difícil quando resolve entrar em confrontos directos com aquele membro do corpo que muitos não perdem, só porque anda agarrado ao pescoço. vamos fazer assim, podes vir mas temos coisas a acertar primeiro:

- Coração que é coração, serve primeiro que tudo para nos manter vivos. Como tal, estás proibido de matar o meu.
- Transporta uma vida consigo, e une várias ao longo dos tempos. Alguns permanecem mais que outros é verdade, mas cada um tem o seu cantinho guardado, sempre.
- Tendo em conta que nasceu para amar e ser amado, só tens autorização de o tomar em tuas mãos se assim for, caso contrário é melhor desistir já.
- Não se responsabiliza por fazer crescer sentimentos, por mais que eles não devessem existir. Portanto, se pessoas se apaixonam e desapaixonam, amam e deixam de amar a culpa pode ser de qualquer um dos protagonistas da história, menos dele.
- Tem por hábito bater acelerado em situações que acabam por nos deixar sem jeito fazendo sentir-se na barriga com aquelas tradicionais "borboletas". Principalmente no abraço daquele alguém, ou na ansiedade de o voltar a ver. Bom é, quando os dois órgãos vitais se juntam a bater em simultâneo como se grandes conversas estivessem a ter um com o outro.
- Quando o magoam, perde vitalidade. A pouco e pouco perde alguma da sua vontade de viver, passando isso para aquele que o carrega. Trazendo na maioria das vezes consigo, o medo de um novo amor.
- É pequeno e está colocado num ponto estratégico, difícil de lá chegar. Mas quando chega, já não dá para escapar dele. Seja bom ou mau, queiramos fugir ou reforgiarmo-nos por lá. Uma vez agarrados por um coração, para sempre agarrados a ele.
- Tem coisas intresantissímas, como a sua capacidade extraordinária de numa questão de segundos poder estar super quietinho sem nos darmos conta da sua existência e logo asseguir está eufórico e pouco falta para nos saltar pela boca.
- Já por si tem muitas e muitas maneiras de mostrar o que vai lá dentro. Pode ser a coisa mais simples e mais complicada que alguém pode ter a funcionar no seu próprio organismo.
- É o orgão mais leve e em simultâneo o mais pesado, pois seja no fundo ou na superfície, dentro ou em redor dele, é defenitivamente para além de indispensável, aquilo que trás mais de nós. Carrega marcas do passado, pisadas do presente e sonhos do futuro.
- Consegue estar a nosso favor e totalmente contra nós. Faz-nos ser feliz e fazer as melhores coisas do mundo e consegue também, levar-nos a fazer coisas que não são necessariamante más, só não tinham que acontecer.
- Pode ao longo da vida acertar em alguns corações alheios, e com isso acaba a sua vida muitas vezes bastante amachucado, completamente colado com pedaços de fita-cola. Mas como resistente que é, luta até à última para encontrar o orgão vital, igual a ele que se vai encaixar perfeitamente, mesmo com todas as amolgadelas que já fazem parte de ambos, acabando por se completar, tornando-se mais fortes do que alguma vez alguém pensou, compensando todos os buracos que até à data tinham surgido.
- Como tudo na vida tem prós e contras, tudo o que o afecta quer entre directamente com ele ou não faz de cada um de nós aquilo que um dia nos vamos tornar. Aquilo que a pouco e pouco vamos construindo, seja visível aos outros ou apenas visível por nós.

Claúsula de rescisão: a) Aguentar um coração sozinho e magoado. b) Perder muito de um outro alguém. c) Não aguentar as saudades do antigo conforto, mas mesmo assim não poder voltar atrás. d) Correr o risco de perder o coração que podia ser aquele que encaixava perfeitamente, mesmo sem dar conta. E talvez achando que não. e) Deixar tudo escapar entre os dedos como grãos de areia, em vão. f) Ter que ajustar contas com um coração partido, que pode muito bem ser pior que uma tempestade que chega sem aviso, e leva tudo á sua frente. Não deixando nada em seu redor.
Ps: Aceitas todos os riscos?

12 fevereiro, 2011

Quadro que alguém pintou

Sentou-se na relva fresca e húmida naquela manhã. Olhou à sua volta e viu por trás de si as montanhas enormes, e um belo de um riacho alimentado por aquela cascata que à anos ali se encontrava. Passava mesmo a seu lado. Dedicou-se a fechar os olhos e sentir todos os aromas que esvoaçavam no ar, passando por si ao sabor do vento. Observava as águas a correr, sempre na mesma direcção, sem voltar a trás, com uma rapidez jamais vista, tal e qual todos os momentos da vida de um alguém. Quando olhou para trás, viu as enormes montanhas conjugadas entre si, comparou-a com a enorme montanha de acontecimentos da sua vida. Momentos que passaram, bons e maus, as vezes que errou, que foi injusta , que esteve certa e que se enganou, experiências que viveu coisas que aprendeu. Momentos do presente que vai vivendo sem saber o dia de amanhã, e inúmeros momentos que vai imaginando dia após dia, tentando formar um futuro. Mais que não seja, vai atirando pedras para o ar formando castelos de opções a seguir um dia. Por muito incerto que este seja, algum daqueles caminhos será o seu. Resta saber qual. Mas isso só o tempo lhe dirá. No regaço leva consigo, todos aqueles que um dia estiveram a seu lado, todos os que sempre a acompanharam, para se alimentar de um turbilhão de sentimentos que todas essas lembranças trazem consigo. Está sozinha naquele meio, envolvida em tudo como se não houvesse amanhã, como se fosse algo passageiro, que estivesse ali por acaso. Enrola os braços aos seus próprios joelhos olha em volta mais uma vez, vê na sua cabeça imagens de tudo o que foi vivendo até ali como se da película de um filme antigo se tratasse. Abraça-se como se outro alguém ali estivesse a fazê-lo por ela, como se estivesse envolvida nos braços do alguém que sempre esperou. Imagina e volta a imaginar, vive o momento que está a criar por muito que não seja mais do que algo da sua cabeça. É pintora sem tela nem paleta, sem tinta nem pincel.

10 fevereiro, 2011

Dear T #

 Promete que ficas aqui, de uma vez para sempre.
Hoje estive naquela a que quero chamar a nossa praia. Naquela praia onde me levas-te, onde me deste o meu presente de aniversário: a tua presença, o valor de te ter a meu lado naquela noite, naquele momento. Senti a tua falta mais que nunca. Senti falta de poder sentir a tua mão na minha, os teus braços a volta de mim , que me fazem sentir a protecção de que preciso, de me poder aconchegar no teu ombro, de te poder dar beijinhos na testa, no nariz ou no queixo. De te ter ali comigo. Posso dizer-te que estava tudo exactamente como naquela noite. Isto, se não for avaliar tudo o que vi da maneira como vi, que foi totalmente diferente do dia em que estavas lá comigo. Fiquei com saudade a saltar por todos os lados e só queria abafá-la fosse como fosse. Saí de lá depressa, mais depressa do que lá cheguei para dizer a verdade. Teve que ser, foi tão mais forte que eu.  Pensei tanto em estar ao pé de ti outra vez, mesmo sabendo que o mais provável era não estares a ouvir os meus pensamento fosse lá onde fosse que te encontrasses àquela hora. A quantidade de coisas que me lembrei ali, foram demasiado pesadas e profundas para me deixar lá ficar.
Reparei por acaso, que um dia escrevi isto, para ti também : "É assim que estamos bem, e aconteça lá o que acontecer o que eu não posso perder é a nossa felicidade. Aquela que sentimos quando estamos lado a lado. (...) E mesmo sendo pouco é bom, muito bom. Muito nosso. (...) Vou ficar a teu lado para tudo como já te prometi. Vou sentir o que sinto contigo, vou ser feliz . Vamos ser felizes. Nem que seja por escassos momentos. " certo é, que nunca chegas-te a ver. Hoje, sei que nada disto está assim, já tentei e retentei. Já te disse mais de mil vezes a mesma coisa. Hoje sei que já não somos o que éramos e os momentos passaram de escassos, a um acaso. Hoje, as nossas conversas passaram de longas e diárias a banais e ocasionais. Hoje quero-te de volta. Quero tudo o que era nosso. Tudo o que foi consumido pelo tempo e mais algumas coisas que não sei muito bem quais, tal e qual os fogos consomem florestas no verão, deixando o seu rasto marcado por algo escuro. O teu rasto, o rasto do que é nosso é claro, é carregado de coisas e momentos bons que eu só quero voltar a viver, não da mesma maneira, mas muito melhor. Hoje já não estou segura nisto, as bases que estavam tão sólidas estão mais trémulas a cada dia que passa. Sinto-te longe, não te consigo explicar o porquê, como se me tivesses deixado por aí sem pré aviso.Não quero voltar a ouvir o teu pedido de desculpa, só quero que voltes. Só isso, o lugar que ocupavas, que me fazia feliz dia após dia está agora a ficar vazio, deixa-me sem reacção. Admito, não sei o que fazer. Não sem ti.  Hoje amanhã e depois, vou ficar a espera de mais qualquer coisa. Preciso de ti, mais uma vez.

07 fevereiro, 2011

E tu, voltavas?

A quase cada esquina que passas, ouves alguém a ter mais uma daquelas conversas de ocasião em que de um momento para o outro se solta livre no ar a frase " Se eu pudesse voltava atrás", ou aquela muito original "E se pudesses voltar a trás como fazias?" ou ainda e "Queria voltar atrás e ficar presa naquele momento". Esta é a parte em que eu pergunto, mas voltar atrás para quê? Eu não percebo. Secalhar até percebo, as pessoas gostam de alguns dos momentos que vivem e querem vivê-los de novo. Eu até entendo isso. Mas o voltar atrás implica muita coisa, nunca voltaríamos atrás a saber aquilo que sabemos hoje, nunca voltaríamos atrás com a idade que temos hoje, nunca voltarias atrás e viverias as coisas que já vives-te. Mesmo que pudesses voltar, nada te garante que fazias as coisas de outra forma, porque se elas te aconteceram assim, em outra altura por alguma razão foi. Agora provavelmente seria igual e farias exactamente a mesma coisa, porque tudo o que vives-te teria sido apagado de ti, ficarias completamente oco e para além de teres que viver tudo de novo, existiria uma grande probabilidade de fazeres as mesmas asneiras, tomares as mesmas decisões, rires e chorares com as mesmas coisas e até com a  mesma intensidade com que um dia já o tinhas feito. Agora eu pergunto há necessidade disso? Não chega magoarmos só uma vez e seguir em frente? Sim, porque o voltar atrás não implica só as coisas boas, apagando tudo o que de mau se passou em teu redor ou até mesmo na tua história. Porque é que só querem voltar atrás para viver as coisas boas? Porque é que ninguém diz : eu quero voltar atrás e reviver aquele mau momento? Porque é que querem as coisas todas fáceis e simples, mesmo sabendo que aquelas que nos dão mais trabalho e nos fazem crescer com tudo aquilo que nos ensinam, são as melhores? Porque é que querem apagar as coisas que mais os ensinaram, que mais os ajudaram a ser alguém na vida, que mais os ajudaram a crescer. Que os tornaram as pessoas que são. Eu só aceitaria voltar atrás se pudesse ser exactamente como estou, exactamente como sei que as coisas aconteceram, exactamente com tudo o que aprendi. Exactamente com tudo o que me magoou e com o que me fez feliz. Com tudo o que me permitiu passar de menina a mulher. Sem tirar nem pôr. Mas, pelo sim pelo não, tendo em conta que isso não vai ser possível. Eu prefiro andar só para a frente, para andar para trás já bastam os contratempos naturais da vida de cada um. E tu, se pudesses voltavas?

04 fevereiro, 2011

A história que não podia ser minha...


Vivia dentro de casa. Presa. Completamente. Não podia sair, não podia ver este ou aquele. Não adiantava pedir autorização para nada. Os seus pais não sabiam o valor dessa mesma palavra, não sabiam o seu significado. De certo achavam que ela era uma peça lá de casa que não se podia partir, que tinha de ser protegida de tudo e de todos, sem saberem qual a verdadeira definição da palavra protecção. Afastavam-na do mundo, não aprovavam amizades. Não sabiam amá-la. Na verdade não sabiam nada. Nem a sua própria filha conheciam. Aquele namoro que descobriram, acabaram com ele. Sem alguma vez se preocuparem se esse seria o rapaz que ela queria a seu lado. Saí-lhes mal. Não, Não tinha sido esta a vida que ela escolheu um dia viver. Ela tinha sonhos, só queria uma vida normal, queria liberdade. Queria o valor que realmente merece. Aquele que nunca lhe quiseram ou souberam dar. Queria que percebecem que ela cresceu, que se tornou mulher, e que aprendeu muita coisa. Que dá valor aquilo que outros nunca dariam. Não o perceberam, como seria de esperar.
Um dia ela encontrou um amor maior, mais forte, mais verdadeiro. O verdadeiro amor da sua vida. E viveu-o, debaixo do nariz deles durante anos, dentro das paredes daquela casa que eles todos os dias e todas as noites habitavam, eles nunca sonharam. Ele partiu. Foi para longe. Os caminhos da vida deles descruzaram-se de um momento para o outro, depois de tanto terem lutado para se manterem juntos. Teve que ser assim. Ela ficou triste, fugiu da vida. Esqueceu-se de viver. Estava vazia. Não se sentia ela. Não sentia nada. Andava apática dia após dia. Afastou-se do mundo. Fechou-se no seu mundo, criou uma autêntica esfera onde só ela poderia entrar, onde só ela sabia habitar. Onde apenas ela percebia o quanto doía o que estava a viver. Chorava por dentro e por fora, estava magoada. Mas ninguém o percebia.
Um dia alguém apareceu. Alguém a fez agarrar-se de novo à vida  por muito que o outro fantasma a assombre, mesmo sem ela querer. Mesmo sem sentir saudade. Mesmo depois de ter morto aquele sentimento enorme que anteriormente os unia. Aquele novo rapaz, aquela nova alma que apareceu na vida dela, fez-lhe viver de novo. Está feliz, não importa o que os outros dizem ou pensam.
Quanto aos seus pais? Nada mudaram. Ou secalhar até mudaram, ela saiu de casa um dia destes e eles nem deram pela falta dela. Ela voltou, como se nada fosse. Estava tudo no mesmo lugar. Só que agora tinha a certeza que podia fugir que não davam por ela. Tinha a certeza que estava ligada a alguém e que ia viver essa paixão da mesma maneira que viveu a outra. Debaixo dos narizes daquela gente lá de casa, sem que mais uma vez, eles sonhassem da existência dela. Ia continuar a arranjar esquemas para sair. Mas desta vez ia viver assério. Ia sentir-se feliz. Aprendeu a viver com o que tinha, agora a sua vida tomou um rumo, agora começou a ganhar sentido. E eu, estou aqui para ela.

 Nota: Do real ao fictício vai apenas um passo.

02 fevereiro, 2011

Prisioneira de mim

Os dias passam, sempre iguais. Só a temperatura se altera, só os relógios continuam o seu trabalho, as pessoas a passar na rua são sempre as mesmas, só as cores que trazem vestidas mudam. Não que me faça muita diferença, para mim está tudo escuro. Tudo negro e assombrado. Não sei o que é, o que aconteceu, o que fez com que ficasse assim. Ou melhor, até sei mas não quero culpá-lo. Estou presa. Condenada parte da minha vida , por um erro que cometi, não por querer, não porque pensei nele ou porque o estudei passo a passo. Não foi um crime que fosse pensado ao pormenor. Aconteceu. Naquele local, naquele minuto, naquele momento...não o pude evitar. Eu tentei pensar, mas o meu pensamento não reagiu, não me ouviu chamar por ele. Das duas uma, ou me ignorou, a mim e à necessidade que tinha dele ou simplesmente foi apanhado por surdez repentina e perpétua. Sim, desde esse dia nunca mais me ouviu. Eu tento. Juro que tento, puxo por ele, chamo por ele, grito por ele mesmo quando estou em silêncio eu continuo, as forças podem faltar mas eu chamo por ele. Acho que a minha capacidade de pensar me abandonou sem pré aviso. Eu insisto em perguntar porquê me abandonou naquele momento em que mais precisei, logo no momento em que estava prestes a cometer um grande erro, mas não adianta. Para além de surdo ficou mudo também. A resposta nunca chega, nunca. E aí, eu continuo aqui presa, amarrada e sufocada dentro da minha esfera. É neste espaço minúsculo que sinto uma força dentro do meu peito a querer sair. Um órgão vital em mim. Sim, ainda bate, bate forte não sei se pelo que sinto por ti, se é só para me castigar por não o ouvir. Ou até por não fazer o que ele quer. Ele está magoado, tanto como eu. Doí. Mas mesmo assim bate como uma força da natureza. As suas paredes começam a ficar cada vez mais frageís e eu sem forças. Não quero, não consigo mais olhar para a janela e ver o que se passa dia após dia. Não consigo, porque por muita coisa que mude, eu nunca vejo. A chuva já não caí, as flores já não têm cor, o vento já não sopra, o sol já não brilha. Só a dor, só ela cresce. E eu, eu continuo aqui no meu canto, refugiada do mundo, presa no meu corpo, numa imagem tua que talvez eu tenha criado. Agarro-me como se fosses tu a fazê-lo. Faço-o, para de uma maneira ou de outra te sentir, mesmo que só na minha imaginação e por poucos instantes. Estou presa em mim, quando o único crime que naquele dia cometi, foi apaixonar-me.

Nota: Fictício.