14 dezembro, 2010

The other side

"Todo o mundo, é bem menos misterioso do que se acha que é."
Nunca desejarias a felicidade se nunca tivesses passado pela tristeza, nunca gostarias do dia se não conhecesses a noite e vice-versa, nunca esperarias por alguém, ou por algum tipo de coisa se ele estivesse lá ou tudo te caísse aos pés. Em criança nunca ias querer dormir de luz acesa, se não tivesses experimentado deitar-te na escuridão, nunca ias ficar meses à espera do Verão se não vivesses três meses de puro Inverno. Nunca cairias na desilusão se não voasses mais alto do que a tua própria imaginação, que os teus sentimentos, que a tua razão, iludindo-te e ultrapassando limites. Nunca saberias o que é o bem, se não existisse o mal. Não conhecias o medo e a desistência, se não passasses por alturas de coragem e persistência. Nunca ias saber o que é sentir vergonha se estivesses sempre há vontade com tudo e todos. Nunca ias conseguir conhecer a cumplicidade enquanto não encontrasses alguém com quem, sem dares por conta, trocas-te palavras no mais puro dos silêncios. Provavelmente, nunca conhecerias a mágoa se não encontrasses pessoas que te magoaram quando menos esperavas. Nunca saberias quem são os teus verdadeiros amigos, se não andassem por aí espalhados quantidades exageradas de falsos amigos. É complexa, a forma como vamos descobrindo tudo o que nos rodeia, a pouco e pouco...passando muitas vezes por fases maravilhosas e fases  menos boas que fazem parecer que o mundo ruiu e os nossos desejos deixaram de ser ouvidos, seja lá quem for que se dá trabalho de os escutar.
É  de facto incrível a forma como tudo tem uma capacidade enorme para nos fazer amar e odiar, gostar e não suportar, querer ouvir ou até, desejar que aquele som não existisse, esperar calmamente ou esperar com desejo de fugir para nunca mais voltar, querer  mais que tudo ou desejar que nunca tivesse existido. Procurar incessantemente até não poder mais ou simplesmente partir, deixando tudo para trás. Lutar com todas as forças, até aquelas que não sabíamos que tínhamos e desistir por falta de vontade ou razões que nos façam continuar. Como é que podem ser coisas diferentes a fazer-nos sentir de forma diferente, ou então a grande questão, como é que a mesma coisa pode fazer-nos sentir, coisas tão boas e más em simultâneo? Porque é que o que é bom, não pode ser só bom, sendo também mau, porque é que o que nos faz amar não pode só fazer-nos isso, mas insiste em conseguir também fazer-nos odiar com todas as nossas forças. Como é que a mesma razão, nos pode fazer chegar onde nunca chegamos, e por outro lado fazer-nos desistir do dia para a noite? Uauuu, complexo isto, menos do que parece e mais do que desejava.
As coisas não são mesmo o que parecem. Todas elas têm como função mostrar-nos algo que nem pensávamos existir, fazer-nos sentir coisas que nunca sentimos, sermos pessoas melhores e piores. Sim, tudo o que nos rodeia transforma o que somos, aquilo em que acreditamos, aquilo que esperamos dos outros e o que os outros esperam de nós.
Ah, e essa conversa que nos tentam meter na cabeça do anjinho e do diabo que nos fazem pensar coisas boas ou más e que só podemos seguir um deles, é muito bonita enquanto acreditamos que isso pode ser possível, e tentamos sempre seguir só um deles. Mas no fundo, somos a mistura completa e absoluta dos dois, um manifesta-se em função do outro, em função daquilo que o que se encontra em nosso redor, nos faz sentir naquele momento. Somos tudo aquilo que o meio que nos rodeia faz de nós. Somos uma e outra coisa, somos carne para o nosso próprio canhão.

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