"Aprendi a não fazer nada quando aquilo que mais quero não depende só de mim." (Margarida R. Pinto) |
Ela gostava. Gostava de ver como o arco-íris. Não queria desvendar as lendas que se contam, não queria descobrir o seu fim e muito menos encontrar o tesouro. Apenas confessou que cada vez que abre os olhos deseja ver tudo nas mais lindas cores, naquelas cores, e sentir das mais variadas maneiras, de acordo com a tonalidade de cada uma delas. Ela queria dar significado ao mundo através daquelas sete manchas coloridas que aparecem no céu nos dias em que a chuva e o sol aparecem em simultâneo. Ela um dia abriu os olhos e viu. Viu como sempre desejou...abriu os olhos e deixou-se voar sem tirar os pés do chão. Viu tudo o que queria da maneira que queria, e sentiu de forma que não sabia que ia sentir. Não imaginou, viveu. Estava lá e jura a pés juntos que o fez da forma como sempre esperou. Encontrou no horizonte uma mancha enorme vermelha e pensou no amor. Reconheceu-o mais facilmente do que pensava, pois afirma que nunca o sentiu verdadeiramente para saber o que era. Nunca o viu para lhe poder atribuir uma forma. Apenas sabe que pode magoar bastante o órgão vital, a que todos dão o nome de coração. Assim, sentiu-o como nunca o tinha sentido. Sentiu-o como se ele se apoderasse dela e fizesse dela a pessoa mais feliz do mundo. Sentiu-se como que, desejada por si mesma. Enquanto procurava palavras para descrever uma sensação indescritível, encontrou uma mistura de cores que dificilmente conseguiu reconhecer. A muito custo apercebeu-se do laranja a pairar pelo ar, do amarelo reluzente que queimava os olhos como se do próprio sol se tratasse. Cruzou-se com o verde e encheu-se de um sentimento que já desconhecia por há muito não se cruzar com ele, como se cruza com as vizinhas todas as manhãs quando sai de casa. Encontrou a esperança que precisava para conseguir definir os objectivos chave que faltavam para concluir aquele tão grande sonho que tinha - amar. Construiu sonhos e idealizou o príncipe que ia governar com ela o seu reino encantado. Conseguiu ir mais longe do que aquilo que algum dia imaginava. Não esperava que fosse tão puro tudo o que se apresentou há sua frente, limitou-se a fotografar com a sua memória o que via e descrevê-lo num silêncio profundo. Lá ao longe, depois de uma mistura mais que perfeita pareceu-lhe ter o céu e o mar em direcção a si, viu aqueles tons de azul misturarem-se como se estivessem perto de se devorar um ao outro. Um mais claro e outro mais escuro...um o caminho para o sucesso e o outro os obstáculos a ultrapassar. A meta? concretização de todos os sonhos. Quando pensava ter acabado. Quando sentindo-se satisfeita já não esperava mais, uma mancha violeta espalhou-se em redor de tudo como se estivesse prestes e engolir o que aparecia há sua frente. Teve medo e fechou os olhos. Não contou o que viu. Voltou a abrir e tudo tinha desaparecido. Meia perplexa e sem livre fluidez de palavras apenas disse: é possível, eu vi como sempre quis ver, vi como o arco-íris.
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